A devoção a Nossa Senhora dos Remédios foi introduzida em Portugal por religiosos franceses da Ordem Hospitalar da Santíssima Trindade, que estiveram em Lisboa no início do século XIII. A finalidade desta Ordem era a Redenção dos cativos no oriente e sua padroeira era Nossa Senhora dos Remédios. Esta confraria se espalhou pela Europa, especialmente na Península Ibérica. Até o século XVIII já havia libertado 900.000 prisioneiros. Os irmãos da Santíssima Trindade trouxeram para o Brasil a mesma devoção, erguendo capelas em sua honra em várias províncias do Nordeste e nas regiões barrocas de Minas Gerais. No entanto, os santuários mais famosos se encontram em Paraty, São Paulo e Fernando de Noronha. |
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Festa de Nossa Senhora dos Remédios em Paraty/RJ
A Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios foi fundada em 04/08/1729, era a responsável pelas festas da Padroeira da cidade, realizada no dia 8 de setembro, dia da “Natividade de Nossa Senhora”, que nos séculos XVIII/XIX e XX, era de grandes proporções. Composta de homens residentes na área urbana e rural, trajava opa branca com as iniciais N.S.R., no lado esquerdo, portava a vara de provedor e medalha de bolsa para esmolas em prata, ambas decoradas com a efígie da santa. A festa era realizada com a ladainha durante nove dias, iniciando no final de agosto, dia 30 e encerrando no dia 7 de setembro com a transladação da imagem de Nossa Senhora dos Remédios, da Igreja de Santa Rita para a Igreja Matriz costume que se mantém até hoje e faz referência ao período do século XX em que a Matriz esteve em obras e a Igreja de Santa Rita serviu a todos os atos; no encerramento das obras, as imagens retornaram para a Matriz em procissão. Conforme se verifica no estatuto da Irmandade de Santa Rita, uma das obrigações dos irmãos desta Irmandade era acompanhar a imagem de Nossa Senhora dos Remédios durante a transladação para a Matriz, “revestidos de opas com os brandões acesos”. O encerramento da festa era com missa solene, procissão no dia 8 de setembro, percorrendo as ruas da cidade, a imagem ladeada pela Irmandade com as insígnias, guião, o itinerário de costume, saindo da Igreja Matriz, Rua do Comércio, Rua Aurora, Travessa Santa Rita, Rua de Santa Rita, Rua do Mercado, atual Dona Geralda e Praça da Matriz, precedidas dos andores de São Joaquim, Santana e São José, além de virgens e anjos que após o TE DEUM recebiam os famosos cartuchos de doces em formato de cornucópia. Em 1897 a Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios distribuiu trinta cartuchos. Existem relatos nos jornais do início do século XX, da presença da Câmara e Vereança, ladeando o andor de Nossa Senhora com as suas varas e de encerramento, leilão de prendas e por ser realizada em setembro era costume serem apresentadas as danças típicas desta época: Jardineira homenagem à “primavera” e Dança das Fitas homenagem à “árvore” encerrando com a queima de fogos de artifício. Fato notável é a presença do andor de São José na procissão de Nossa Senhora, desta vez sem o Menino Jesus no braço esquerdo, peça removível que era substituído por um breviário com capa de madrepérola, atado por laço de fita azul, uma vez que a imagem da padroeira já transportava o Menino Jesus. No dia 19 de março, dia de São José, em sua procissão, a imagem desfilava nas ruas da cidade, portando o Menino Jesus. Este momento de festejo em Paraty era abrilhantado e marcado pelo retorno à cidade, dos membros das famílias, parentes e amigos que residiam fora, retornavam para pedir alguma graça, “pagar promessas”, amenizando a distância, desfrutando de dias alegres de confraternização além de reforçar mais ainda sua fé com a padroeira, caracterizado com o nome de “Caravana da Saudade”, acontecimento de vulto na cidade, que além de reunir sentimento de pertencimento pelos membros da comunidade paratyense, integravam a festa, tocando na banda de música, orquestra durante cerimônias religiosas, bailes nas casas e clube. Eram recebidos no cais da cidade, à chegada do vapor e depois lança da Carreira, com banda de música e discurso, somados as cestas de flores que traziam para ornamentar a igreja e o andor de Nossa Senhora. Na zona rural, a padroeira também era cultuada na Capela do Corumbê, construída no século XIX e na Várzea do Corumbê na residência do Sr. Manoel Avelino do Nascimento, em cujo altar doméstico, foram celebres as ladainhas e comemorações a esta invocação, proporcionando assim a participação aos que não podiam vir à cidade.
Texto de Julio Cezar Netto Dantas Diretor do Museu de Arte Sacra de Paraty e Forte Defensor Perpétuo
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Igreja Matrtiz Nossa Senhora dos Remédios - Um pouco da história
Por ocasião da fundação do povoado, no final do século XVI, ergueu-se uma pequena capela dedicada a São Roque sobre o atual Morro do Forte, onde então se encontravam construídas as primeiras moradias. Porém, em 1646, Dona Maria Jácome de Melo doou a área situada entre os rios Perequê-açu e Patitiba para a construção do novo povoado, surgindo assim a “Vila de Paraty”, exigindo que nele se construísse uma capela dedicada a Nossa Senhora dos Remédios, santa de sua devoção. Esta primeira capela, de pau-a-pique, foi demolida em 1668 e, em seu lugar, construída uma igreja maior, de pedra e cal, obra que só terminou em 1712. Contava a nova Matriz com sete altares, sendo duas capelas internas. Em l787, por ser a igreja pequena para a população, cerca de 2.700 pessoas, foram iniciadas as obras de um novo templo em local próximo ao antigo. Essa obra, por ser grandiosa, custou ao povo grande soma de dinheiro e, por falta de ajuda financeira, teve sua construção paralisada várias vezes. Custeou e administrou sua finalização a piedosa senhora paratiense, Dona Geralda Maria da Silva, que por isto recebeu do Imperador Dom Pedro II o título de “Dona do Paço”. Seu pai, Roque José da Silva, encontra-se sepultado sob a escada do coro desta igreja. A sete de setembro de 1873 foi a igreja entregue ao culto público, precedendo à sua benção uma procissão em que se transladaram as imagens deste Templo que estavam guardadas na Igreja Santa Rita, a qual serviu de Matriz no período da construção atual, para a nova Matriz, costume que se conserva até hoje, por ocasião da festa da padroeira. De estilo neoclássico, sobressai por sua imponência e apresenta a sobriedade e o despojamento característicos deste estilo, em que as grandes massas se contrapõem ao ritmo dos vãos. Destacam-se nesta igreja a imponência da edificação, suas torres inacabadas, as imagens das antigas capelas, os frontais de altar das capelas internas do Século XVIII e a pia batismal do Século XVII. São dignas de especial atenção as imagens da Semana Santa, em tamanho natural, de vestir ou de roca. Detalhe curioso são as torres inacabadas e o fundo da edificação por terminar. Acredita-se que isso aconteceu não só pela falta de recursos e mão-de-obra escrava, mas também porque a igreja teria afundado, inclinando-se perigosamente para frente, devido ao seu peso e à inconsistência do terreno. A Igreja possui planta de traçado característico do século XVIII, com dois corredores laterais ligados à nave central. Fachada dividida por pilastras em cantaria e cunhais do mesmo material. Frontão de linhas retas com óculo central e cruz de ferro. Clarestórios em arco, típico do século XIX. Destaque, entre outras, para a imagem de Nossa Senhora dos Remédios, possivelmente de origem portuguesa, do século XVIII, que fica no nicho central do altar-mor ladeada pela imagem de Santana e São Joaquim, Senhor dos Passos com braços articulados, e o arcaz da sacristia em jacarandá maciço. Em 1863, o imperador D. Pedro II em visita a Paraty registrou em seu diário sobre essa igreja: “É grande e faltam torres e consistório. Pedem auxílio financeiro à província.” |
Destacam-se nesta Igreja a imponência da edificação, suas torres inacabadas, as imagens das antigas capelas, o retábulo das capelas internas do século XVIII.
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